Maria Montessori foi a 1. mulher a estudar medicina na Itália, e a 1. a se formar com a especialização em cirurgia e psiquiatra. Foi uma excelente cientista, palestrante e lutadora pelos direitos da mulher, da criança e da família no seu todo. Uma mulher que falava sobre a importância de uma educação livre e para a paz. Na europa machista da época, devido ao seu talento e força, eles não tiveram outra alternativa a não ser aceitar e reconhecer seu trabalho. Maria Montessori era filha única de um funcionário público e de uma dona de casa. Sua mãe porém já era uma mulher incomum para os padrões da época e lutava pelos direitos da mulher de acordo com as suas possibilidades. D. Renilde Montessori fez questão que sua filha Maria tivesse a melhor educação possível. Portanto quando a menina se tornou moça e acabou o colégio, a sociedade patriarcal italiana da época, previa que ela se casasse ou pelo menos se tornasse secretária, enfermeira ou professora até que se casasse.
Para se ter uma idéia, a Itália da época era tão primitiva para as mulheres, que elas não podiam possuir contas em bancos ou mesmo estar em posse do próprio dinheiro. Qualquer bem era automaticamente reservado ao marido. Não podiam depor perante a justiça sem a presença do marido e nem pensar em direito de participação política.
A senhorita Montessori, para grande preocupação de seu pai, então decidiu:
Médica! “Vou estudar medicina”. Porém o estudo de medicina era permitido somente aos homens. Mesmo assim, a senhorita Montessori tentou inscrever-se na universidade várias vezes. A resposta era sempre a mesma: “Não”. “…a senhorita pode inscrever-se em outro lugar para o curso de ajudante de enfermagem…” Não que Montessori tivesse algo contra as enfermeiras, mas ela havia terminado a escola e queria estudar medicina. Estava sendo impedida somente pelo fato de ser mulher! Montessori não pensava em desistir, em curvar-se ao machismo emburrecido. Só ainda não sabia como iria conseguir realizar seu sonho.
Era sabido que nos EUA haviam se formado as primeiras médicas e na europa o tema: “mulheres na universidade” era novo e recentemente discutido. Até que Montessori por um acaso, leu em um artigo de jornal onde o Papa Leo XIII , o qual acabara de fazer uma visita aos EUA, traçava um paralelo entre a mulher, a vida e a medicina:
“…ser médica era a profissão que mais correspondia às mulheres pois das mulheres vinha a vida e a medicina salvava vidas…”.
Maria teve então uma excelente idéia: se o Papa dissera que a medicina se destinava às mulheres, quem iria dizer que não? Quem iria atrever-se a ir contra a opinião do Papa na Itália extremamente católica do fim do século XIX? Com este argumento “sagrado” nas mãos, a moça ousada foi até a universidade e conseguiu inscrever-se no curso de medicina na Universidade de Roma, como a primeira aluna do curso de medicina da Itália.
Mas não foi fácil. Maria era constantemente sabotada, o que hoje chamamos de bullying. Não lhe era dado muita oportunidade de participação nas aulas, e o pior, a ela não era permitido as aulas de anatomia prática, pois a moça não deveria ver um corpo nú, na mesma sala, junto com os estudantes do sexo masculino…Montessori contornava o problema tendo que estudar nos cadáveres depois do horário oficial das aulas. Para isso contratava uma acompanhante e um homem que fumasse charutos de odor bem intenso a fim que encobrisse o cheiro desagradável dos corpos em decomposição…
Maria pensou muitas vezes em desistir. Mas superou, e em 1896 se formou como médica-cirurgiã com laurea (louvor). Porém, ainda pairava a dúvida: qual seria a especialização a ser seguida?
Seus colegas não tinham dúvida: Já que havia conseguido se formar, agora ela teria que finalmente por-se em seu lugar e destinar-se a ginecologia, ou seja, por ser mulher era deveria trabalhar com mulheres…
Montessori reagiu perguntando: “Qual a especialização mais difícil atualmente? Na época era a psiquiatria…um tema novo, era uma área que ninguém conhecia bem ao certo.
Mais uma vez Maria se “empodera” e diz: “Psiquiatria, vou ser psiquiatra!”
Foi nesta fase de sua vida, que Maria inicia seu contato com crianças especiais. A partir de então, depois de anos de observação sobre o comportamento destas crianças e de como a nova psiquiatria da época lidava com elas, percebeu que este não era o seu caminho. Seu caminho não era a barbárie experimental da época, vendo a criança como um ser que não entendesse nada, quase como um objeto a ser moldado, seu caminho era o amor, o humano, a psicologia em favor da criança como ser especial e único. Sua proposta era ver a criança não como uma miniatura de um adulto, mas conhecê-la, respeitá-la na sua forma natural, sua alma de criança. Daí nasce a Montessori pedagoga! O grande psiquiatra Sigmund Freud, depois de conhecer a metodologia montessoriana, escreveu em um artigo:
“Se toda a criança estudasse numa casa dei bambini (casa das crianças – assim eram chamadas as instituições montessorianas), eu não teria mais nenhum trabalho a fazer com os adultos…”
Seu caminho foi árduo, teve que ser exilada por causa do regime fascista de Mussolini, passou por inúmeras críticas, foi enganada e abandonada pelo noivo, teve até que renunciar ao próprio filho quando pequeno, mas Maria Montessori não perdeu a coragem e a alegria de viver. Manteve sua postura firme e lutou pelo que acreditava, pelos seus sonhos, até o fim.
Trabalhava por uma sociedade mais justa, onde a criança seria a chave e o caminho para isto.
Pensava que crianças que aprendessem a se respeitar, que fossem educadas para ser autônomas, que tivessem liberdade de pensamento, tornariam-se adultos equilibrados, autônomos e livres. Hoje seu trabalho sobreviveu a tudo e é mais atual e importante como nunca. Maria Montessori, uma inspiração!
Bibliografia: Kramer, Rita – do alemão Maria Montessori – a biografia – / 6. edição – 2004/ Frankfurt
Simone Clemens- pedagoga montessoriana internacional /Alemanha – e Especialista em Superdotação e Supersensibilidade IFLW e Conselho europeu de Superdotação – universidade de Münster Alemanha