Alguns pais me procuram perguntando como educar seus filhos pelo método montessoriano já desde bem pequenos. Esta semana me procurou uma família para consulta com 2 filhinhas gêmeas de 3 meses.
O quarto montessoriano está em moda, se fala dele nas revistas, nas redes sociais; Pais encantam-se pelo que conhecem da pedagogia Montessori e querem oferecer o que eles conhecem de melhor para seus filhos: uma educação, um meio montessoriano.
Montessori não se trata de marca, já que o método não tem patente.
Montessori está sendo conhecido agora em países de língua portuguesa, mas não é um método novo. Maria Montessori, uma médica, pedagoga e cientista muito à frente de seu tempo, começou seu método no final do século XIX .
Os pais que procuram esta pedagogia alternativa, ou seja, que não corresponde ao atual método tradicional de ensino, desejam seus filhos mais livres, mais autônomos, que aprendam o conteúdo escolar de forma prazerosa, que seja aprendido e não decorado para a nota, que aprendam a pensar e a agir por si só, que seja permitido à criança a fazer suas próprias experiências, suas próprias escolhas.
Mas em uma idade tão tenra, o que imaginava Montessori para estas crianças? O que é de tão diferente?
Montessori observou que a criança deseja ser autônoma por si só, deseja crescer, amadurecer. Para isso é necessário que tenha a oportunidade de conhecer e experimentar o mundo.
Como a criança conhece e experimenta o mundo? Vivendo. Tendo a liberdade de movimentar-se com segurança, de entrar em contato direto com o mundo à sua volta. Parece óbvio. Mas não tão óbvio na prática quando muitas vezes viemos e ainda vivemos em uma cultura quase que oposta.
Montessori diz que a criança necessita de estímulos para se desenvolver. Mas estes estímulos tem que ser de acordo com a fase de desenvolvimento da criança e partindo do desejo da criança no momento. A criança é o centro do desenvolvimento dela mesma, o papel do adulto é de ajudá-la e apoiá-la com o que ela está disposta a fazer.
Nada de aprender letras aos 2 anos de idade, se a criança ainda não se mostra pronta pra isso. Tudo tem seu tempo. Nada de saber todos os estados do país, se a criança nem sabe o que é um país e não está interessada nisso. Nada de aprender a somar e multiplicar, se a criança nem se interessa por números. Claro que há as criança com desenvolvimento diferente, por exemplo as superdotadas, as quais realmente estão preparadas para ler aos 3 anos de idade e memorizar estados, países e fazer cálculos. Mas aí é outro tema, um outro fenômeno, que também há que ser atendido.
Por isso todas as crianças tem que ter o seu próprio tempo de aprender, suas fases de desenvolvimento respeitados individualmente e sem pressão de comparações!
E os bebês e as crianças muito pequenas?
O estímulo do adulto segue o que a criança mostra por interessar-se através de seu meio.
O meio oferece, a criança mostra e o adulto apoia.
Montessori aconselhava oferecer à criança um meio natural, já que o ser humano faz parte da natureza.
- Ofereça a seu filho pequenino, na sua maioria brinquedos com materiais naturais: lã, madeira, algodão. Mas sem exageros. Se a criança tiver um brinquedo de plástico o mundo não acabará por causa disso 🙂 Observe que estes brinquedos sejam fabricados sem materiais tóxicos.
- A alimentação é importantíssima. Amamentar é muito importante tanto para o sistema imunológico do bebê quanto para o desenvolvimento do aparelho fonador e respiratório. Alimentos naturais, não industrializados. Frutas, legumes frescos. Aprender a sentir o cheiro dos alimentos. Ex: “Esta é uma maçã Maria, uhmmmm cheira bem, cheira!” Uhmmmmm que delícia! Deixe que a criança coma com as mãos de vez em quando, um pêssego, uma banana, um pepino; que sinta a consistência dos alimentos com as mãos. Se ela já quiser comer um pouco sozinha, deixe que tenha esta experiência, sem críticas, tudo se pode lavar e limpar. Aos poucos vá mostrando como ela pode melhorar, acredite, ela sempre faz o possível para aprender cada vez melhor!
- Contato direto com a natureza. Proporcione para seu filho de acordo com a possibilidade, o contato com a natureza. Sentar, andar na grama, na terra. Sentir o cheiro de terra molhada, brincar na terra, na areia. Eu sei que pessoas que vivem em cidades grandes, em apartamentos, não tem muito essa oportunidade. Mas há parques, talvez nas férias, na casa da avó ou da tia…Cheirar, sentir flores, diga o nome “flor” , “…que linda a flor amarela“ . Animais, crianças amam animais! Que a criança tenha a oportunidade de acariciar, de sentir um cãozinho, um gato, pato, coelho, vaca, todos possíveis. Como se comunica um animalzinho? A vaca faz “múuuuu, o gato miau….”Converse com a criança . A chuva, quando estiver chovendo, que ela preste atenção, que perceba que a chuva faz barulho, que tenha a oportunidade de molhar os dedinhos, as mãozinhas na chuva…Procure não passar seus medos pra seu filho, deixe que ele conheça o mundo, independente das suas más experiências de pais. Se você tem medo de cachorrinhos, procure não passar seu medo para ele. Quem sabe ele cresça sem medo de cachorros, ou de trovões, ou do escuro.
- O movimento: De extrema importância para criança. Deixe que se movimente livremente e cuide para que se movimente com segurança. Que ele possa engatinhar, rastejar, andar descalço, que possa tentar pegar um objeto no alto sem perigo.
E então vem a pergunta: como deve ser o quarto Montessori?
Porque o quarto? O quarto teoricamente, é o lugar onde uma criança de família de nível financeiro médio/alto passaria boa parte de seu tempo. Seria o seu refúgio! O quarto seria o lugar onde os pais organizariam para a criança, para que esta tivesse condições de explorar-lo, de conhecer o mundo à vontade, aprendendo sem perigos.
Vejo em redes sociais quartos lindos, uns bem pensados para as crianças, outros bem pensados para o lucro das lojas…use o seu bom senso.
Quando se fala quarto Montessori, se fala no espaço da criança! Então na realidade, toda a casa deve ser um pouco adaptada para uma criança pequena, pois os pais verificam em pouco tempo, que criança não permanece só no seu quarto. Ela deseja explorar o mundo e o mundo significa primeiramente toda a sua casa.
Organize e decore de acordo com que a criança tenha liberdade de movimento com segurança. Exemplos:
- Um berço que possa abrir uma fenda na grade para a criança quando maior possa sair quando quiser,
- Uma caminha baixa para que possa descer sozinho.
- Prateleiras adequadas ao seu tamanho para que possa ela mesma escolher seus brinquedos e livros.
- Livros com capas duras que não rasguem fácil, de plásticos que não molhem.
- Mesinha e cadeirinhas adequadas ao seu tamanho
- Cortinas curtas para que a criança não puxe e caia na cabeça da criança…
- Segurança paras tomadas e fios elétricos
- Boa iluminação (nem demais, nem de menos)
- Bem arejado
Daí por diante, tudo depende do interesse, da fase da criança. É um plano que vai se desenvolvendo com o tempo. Você vai montando o espaço dela de acordo com o que você observa que é de interesse dela. Sem exageros, sem ansiedade.
A criança é simples por natureza.
Observação, sensibilidade, bom senso, criatividade, bom gosto. É isso que os pais precisam para oferecer à criança um ambiente montessoriano.
Simone Clemens, pedagoga montessoriana internacional e especialista em superdotação e supersensibilidade /Alemanha
Uma resposta em “Montessori para crianças de 0 à 3 anos. Quarto Montessori e Co.”
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