Na escola tradicional montessoriana não há provas nos primeiros anos escolares, não há
crianças sentadas enfileiradas olhando para a professora na frente da sala de aula e o professor não ensina a mesma coisa para todos ao mesmo tempo como na escola tradicional. Mas funciona isso? Não vira um caos?
Não. Funciona da seguinte maneira: Não há mesas e cadeiras enfileiradas. Na sala de aula cada criança tem seu espaço, um tapetinho no chão onde ela pode trabalhar. Ela também é livre para se movimentar na sala de aula. Movimentar-se sim, mas com naturalidade, sem correr ou se comportar de maneira desagradável. Seus próprios colegas de classe cuidam para que ela se comporte desta forma. Com o tempo elas aprendem naturalmente que respeito mútuo é bom e faz parte do cotidiano.
O aluno aprende com materiais didáticos de acordo com o assunto o qual ele está interessado em trabalhar. O material pode ser o tradicional montessoriano ou complementar. O trabalho pode ser individual, em dupla ou em grupo. Por exemplo: o aluno que está começando a aprender a ler. Ele pega da estante um material destinado a isso, ou a professora oferece a ele o material adequado. A criança vai com este material para o seu tapetinho e começa a trabalhar com ele. A professora apenas dá as primeiras orientações e se afasta para dar espaço para o aluno ou o grupo praticar o que foi ensinado. Quando a criança tem dúvidas, a professora volta, esclarece e se afasta de novo. O aluno tem mais autonomia no seu aprendizado, tem tempo para pensar e organizar sua forma de pensar e no processo de ter e tirar dúvidas, consegue estruturar sua própria forma de aprender.
Ás vezes a professora não é necessária, um outro aluno que já sabe o tema esclarece para seu colega, e neste processo os dois aprendem. O aluno que já sabe fixa ainda mais a matéria, pois ensinar é aprender dobrado, e o que está aprendendo, aprende com mais prazer, pois as crianças conversam através da mesma linguagem.
E a correção? A correção é feita normalmente pelo aluno mesmo, de forma autônoma através do material didático. O material foi desenvolvido para possibilitar para a criança a autocorreção da sua atividade. E como eles prestam atenção! Como eles se concentram com esta correção. Claro que de tempos em tempos o trabalho do professor é observar se o aluno está aprendendo de fato o tema. Isso é feito de uma forma informal e constante, através de perguntas orais e com a presença do professor nas atividades onde a criança está trabalhando.
O professor não é ausente, ele é presente quando necessário, proporcionando ao aluno a autonomia que ele já é capaz de ter. O papel do professor é de acompanhante do processo de aprendizado. Ele ajuda e incentiva quando necessário. Ele caminha ao lado e não à frente do aluno.
Não há provas, mas há um relatório detalhado de cada aluno. Não há um número que reduz o que o aluno aprendeu. Será que um aluno que tem uma nota 8 sabe a mesma coisa que outro aluno com a mesma nota? Todo professor sabe que não. Notas são relativas e muitas vezes injustas. Já um relatório de um trabalho de observação constante do professor é muito mais confiável. Dá uma visão muito mais exata do que foi aprendido pelo aluno. E mais, em um relatório o professor pode avaliar não só o desenvolvimento intelectual do aluno, mas seu desenvolvimento sócio-emocional.
O professor não se posiciona na frente da sala e dita o que tem que ser aprendido por todos e ao mesmo tempo. O professor tem uma meta a ser alcançada em um ano. Mas a ordem e o tempo em que isso tem que ser aprendido, é falado e refletido com o aluno por partes. Cada aluno tem que planejar sua semana. Quando a criança é nova na escola, precisa de uma maior orientação do professor. Aos poucos a criança mesma aprende sozinha a organizar suas metas. O orgulho deste trabalho por parte da criança é enorme. A sensação de ter conseguido estar no comando de si mesma é muito melhor do que a sensação de ter obedecido a professora. A autoconfiança cresce constantemente. Descrevo um exemplo prático: a criança planeja que na semana vai escrever a redação sobre o tema da classe no momento -meio ambiente-, que ela vai fazer uma série dos exercícios de multiplicação, que vai estudar seu texto para o teatro e que vai trabalhar com o amigo os nomes das capitais brasileiras. No final da semana ela se reúne com a professora e mostra para ela se o objetivo foi atingido. Se não foi atingido, se a criança não cumpriu o que foi planejado, eles conversarão porque, e o que tem que ser melhorado. Vocês percebem que é um trabalho individualizado e com responsabilidade?
O professor montessoriano não perde a voz, pois ele não fica gritando para alunos ouvirem no fundo da sala de aula. O trabalho é personalizado. E ele não sofre de stress constante ou modernamente de “burnout”, pois sua responsabilidade é dividida com o aluno e ele tem o apoio dos pais. Em algumas instituições eles trabalham em dupla na sala de aula.
Parece muito bom para ser real? Pois é real. Milhares de instituições trabalham com o método Montessori com o mais absoluto sucesso no mundo todo. O princípio desta filosofia e do método é a base da educação dos países nórdicos, considerados hoje os melhores do mundo.
Simone Clemens/pedagoga montessoriana pela Associação Montessori de Aachen/Alemanha/ AMI (Associação Internacional Montessori) e especialista em superdotação na infância e adolescência pela IFLW/Alemanha
Uma resposta em “Como funciona a pedagogia Montessori?”
Amei a explicação. Acredito que este é o caminho para o ser humano se tornar mais hunano: ajudando e sendo ajudado.