Conversar sobre temas profundos, às vezes abstratos ou não comuns com crianças, ou seja, filosofar com crianças não é algo novo, a prática existe desde sempre! O que acontece é que agora isso torna-se mais consciente e leva o nome próprio.
A ideia de filosofar com a criança pode intimidar professores e pais, pois podem considerar a criança imatura, muitas vezes com receio que a criança fique triste ou com medo e que não esteja não “preparada” para tais conversas. Ao mesmo tempo, pais e educadores observadores sentem que algumas vezes, mesmo a criança muito pequena mostra a necessidade de falar sobre temas mais profundos, por exemplo, na ocasião da morte de um parente ou animalzinho de estimação.
Como saber o que falar, como falar? Vejamos alguns pontos que podem auxiliar nesse processo.
Primeiramente vale ressaltar que o tema deve ser levantado pela criança, ou seja, estar em acordo com seus interesses. O que percebemos é que quando a criança aponta uma questão profunda os pais mudam de assunto, desconversam. O que queremos é mostrar a importância de aproveitar essas ocasiões, não fugir delas.
Toda criança é curiosa e tem necessidade de compreender o que se passa com ela e com o seu meio. Sabe-se também que quanto mais inteligente for a criança, mais ela irá se ocupar com questionamentos filosóficos como “Quantas estrelas há no céu?” “Por que a Jaca nasce em árvore, se ela é tão grande?”, “De onde viemos?”, “O universo tem fim?”, “Quem é Deus?”, e algumas podem inclusive questionar “Por que morremos?”.
Percebam que a natureza desses questionamentos é diferente. As primeiras são de natureza informativa e as últimas reflexivas. Perguntas reflexivas podem ser levadas propositalmente para determinada direção, já visando uma determinada conclusão como por exemplo: “Devemos ajudar as pessoas?” Já outras formas reflexivas visam a reflexão sem um fim determinado como por exemplo: ” A arte tem de ser bonita? O que é o bonito?”.
Entender isso é importante para que o adulto, seja pai ou professor, esteja consciente da forma do diálogo levado com a criança. Entretanto, vale ressaltar que a conversa não pode se resumir a responder a pergunta, precisa ser mais que isso. O objetivo é saciar a necessidade intelectual ou emocional da criança no momento, tendo como efeito paralelo o desenvolvimento global da criança e do jovem.
Amplie o poder de raciocínio e a capacidade de argumentação da sua criança.
É importante que o adulto questione a criança levando-a a chegar as próprias conclusões. Seja você a pergunta, não a resposta. Evite expressar imediatamente sua opinião, ao contrário questione as respostas da criança, pergunte:
“É verdade?”, “Tem certeza?”; “É sempre assim?”, “Existem regras para isso?”. Assim você irá ampliar o poder de raciocínio e a capacidade de argumentação da criança.
A escola é um lugar privilegiado para isso, pois ali a criança se depara com uma diversidade de pensamentos, crenças e valores, que podem fazê-la refletir e assim formar sua própria opinião. Quando o professor instiga os alunos, sem dar respostas prontas, o resultado é impressionante. A criança aumenta o seu vocabulário, aprende a argumentar, opinar, defender sua opinião, repensar ações ou crenças, ouvir e respeitar.
Preserve a autoconfiança, fortaleça o vínculo emocional e ajude a desenvolver a sensibilidade e a empatia da sua criança/do seu aluno
Os ganhos são muitos quando nos permitimos filosofar com uma criança. Além de tudo o que já foi citado acima, ainda há o fortalecimento do vínculo emocional pai e filho, educador-aluno, aluno-colegas de classe-escola. Filosofar ajuda a desenvolver a sensibilidade e a empatia. No que se reflete sobre o que acontece com o outro e as consequências para o grupo, percebe-se melhor o outro. Perceber a si mesmo e ao outro leva a uma maior satisfação interior(felicidade) e a um melhor desemprenho do trabalho, na carreira profissional.
Em escolas Montessori na Alemanha aulas de filosofia são muito comuns, pois filosofia ajuda na prática da organização de pensamento, raciocínio lógico, a se articular verbalmente entre outros – resumindo: ajuda a pensar!
A base de tudo isso está na infância e você pode influenciar positivamente. Por isso, não tenha medo quando seu filho ou aluno levantar essas questões, aproveite a oportunidade.
Simone Clemens – Pedagoga montessoriana internacional, pedagoga de talentos (IFLW), Especialista no tema Superdotação e Supersensibilidade pelo Conselho europeu de Altas Habilidades na Universidade de Münster – Alemanha e Bacharel e Profa. de Música (UNESP – São Paulo)