Tive a oportunidade de ministrar uma hora de religião para uma turma de crianças de 5 e 6 anos de uma escola infantil tradicional católica. (Lembrando que eu pessoalmente não pertenço à nenhuma instituição religiosa. Sou livre nas minhas crenças e convicções).
Nesta atividade eu deveria introduzir às crianças o tema “Como é Deus?”.
Aproveitando a época de Natal, reuni as crianças em um círculo, em uma sala tranquila, em cima de um tapete e uma vela bonita acesa no centro do círculo.
Comecei com uma minúscula oração que li para as crianças com duração de 5 segundos, a qual pedia um dia bonito e tranquilo. (A oração não mencionava a palavra Deus, nem Jesus, nem anjo da guarda, nada. Apenas pedia).
Depois lembrei às crianças que no nosso dia a dia muitas pessoas pedem ou agradecem para um SER chamado Deus. Por exemplo na hora da comida, ou em uma canção de aniversário ou em uma igreja. Imediatamente elas começaram a falar o que eles normalmente pediam a Deus: “Eu peço…
” …saúde, que os pais nunca brigassem com eles, que os pais não brigassem mais um com o outro, que minha mãe não grite comigo, um lindo passeio, bolachinhas da avó, que os pais conseguissem pagar a dívida da casa”
Interessante que nenhuma criança disse que pedia qualquer bem material para si. Nenhuma criança pediu qualquer brinquedo, mesmo sendo época de natal…
Talvez na opinião das crianças, Deus não seja responsável por presentes materiais. Ou o ambiente estava tão convidativo à reflexão, que eles pensaram apenas em coisas mais profundas que presentes…
E então perguntei-lhes em forma retórica :”Mas, quem é Deus?” “Como será que ele é na opinião de vocês?”
As crianças pensaram, cada uma para si. Eu também não respondi, não disse nada. Em seguida pedi a eles gentilmente em tom de voz baixa, que eles desenhassem como seria “Deus” na opinião deles.
Devagar, eles se locomoveram para as mesas onde já estavam papéis e lápis de cor e começaram seu trabalho. A vela colorida, acesa, nos acompanhou para uma mesa pequena paralela à mesa de trabalho.
Durante o trabalho ia perguntando cuidadosamente, em tom bastante baixo, o que significavam os desenhos.
A reflexão das crianças:
“Para mim há vários Deuses em vários lugares do mundo” Esta criança desenhou 5 Deuses diferentes e mais a imagem tradicional de Jesus na manjedoura com Maria e José
“Este é Deus (Jesus) que foi morto em uma cruz” Logo começando uma reflexão entre eles: – (eu permanecia em silêncio) –
Crianças:
A “- Mas Jesus está morto?”
B “-Sim”
C “-Não”
D “-Sim, o corpo está morto, mas o espírito, a alma está viva.”
E “- O que é o espírito?”
D “- Quando o corpo morre, o espírito não morre, ele continua vivendo. Por isso o corpo de Jesus está morto, não existe mais, mas ele continua vivo.”
“Aqui é Jesus, Maria e José” (Esta desenhou também um padre típico de igreja católica)
“Meu Deus é uma Deusa, uma menina”. Esta criança desenhou uma Deusa com cabelos bem longos. Interessante que quando esta criança revelou seu desenho, logo uma outra criança disse que não era possível, pois Deus era um homem! 🙂 Eu então intervi, dizendo que isso ninguém poderia afirmar ao certo. Se a colega achava que seu Deus era feminino, era o que ela achava e que todos nós tínhamos que respeitar sua opinião.
“Meu Deus vive na Terra” (desenhando-o em uma grama olhando para as nuvens)
“Meu Deus é branco, pois as nuvens são brancas“.
“Meu Deus tem uma capa capa vermelha enorme“
“E o meu uma coroa de ouro“
Eu realmente adorei meu encontro religioso com estas crianças. Elas me ensinaram mais uma vez sobre diversidade de opiniões, respeito mútuo e muito sobre religiosidade. Agradeci a todos eles pelo trabalho em conjunto. Meu Natal acabara de começar alí, naquela hora.
Simone Clemens, Pedagoga montessoriana pela Associação Montessori de Aachen /Alemanha (Representante oficial da AMI) e Pedagoga de Talentos – ECHA Coach – especialista em Superdotação/Altas Habilidades/Supersensibilidade – IFLW e ICBF
2 respostas em “Religião à la Montessori”
Boa noite, linda abordagem… e com muita sensibilidade para desenvolver o tema. Parabéns!
Obrigada e seja bemvinda Valquiria!