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Superdotados com baixo rendimento escolar 2/descoberta na vida adulta

preocupadoO sistema educacional alemão não é homogêneo. Este se organiza de acordo com seus 16 estados, os quais tem completa autonomia para ditar suas próprias regras. Há estados que tem na sua maioria um sistema único, um mesmo tipo de escola para todos até o ingresso ou em uma universidade ou em um curso profissionalizante.  Outros estados, dentre eles o considerado mais “forte” em termos de educação, a Baviera, o sistema educacional é dividido em vários tipos de escola. E por fim há estados onde o sistema é misto e mais aberto, permitindo que as famílias escolham quais as escolas adequadas para seus filhos.

Como citado acima, a Baviera, adota o sistema de escolas de tipos diferentes. É um sistema complexo e bastante extenso. Basicamente este sistema educacional fundamental é montado da seguinte forma:

  • creche/bercário até os 3 anos
  • jardim de infância/infantário dos 3 aos 6 anos

A partir daqui já há instituições de apoio para diferentes necessidades educacionais especiais.

  • escola primária – (do primeiro ao quarto ano escolar)

Como alternativa de educação especial paralela a esta, há ainda o que chamam de “escola especial”. O freqüentar uma escola especial não é uma escolha dos pais, mas sim uma conseqüencia da experiência da criança no sistema educacional padrão (a escola primária ou do jardim de infância).

Depois dos 4 anos na escola primária, as crianças são divididas de acordo com suas notas finais em 3 tipos de escolas:

  • A escola principal (voltada mais a prática e a profissionalização)
  • A escola prática (nível pragmático- intelectual médio, foco também em atividades práticas, artísticas – o acesso a universidade da-se através de prolongamentos)
  • O Ginásio (nível pragmático-intelectual alto,  a sua conclusão dá acesso direto a universidade)

Esta seleção no sistema escolar através de notas em uma idade ainda tão tenra não é completamente livre de críticas, já que estas notas escolares estão também ligadas a fatores econômico-sociais.

O ingresso em uma escola ou outra depende das notas escritas no último ano da escola primária, e é de se imaginar que algumas crianças apesar de altamente inteligentes não atinjam a permissão ao ginásio, dificultando mais tarde um ingresso em uma universidade.

Aqui reconto a história de Konrad, 29 anos, um rapaz de família muito simples. Quando criança, sua mãe, com dificuldades financeiras e emocionais, não conseguia cuidar da casa e das crianças sozinha.  Por causa disso, um assistente social visitava sua casa regularmente. Com este assistente social Konrad aprendeu muitas coisas. Ele representou com o tempo uma figura quase que paterna para as crianças da família. Este ajudante da vida prática saia para brincar com ele e os irmão, o ensinava a mexer em computadores, os levava para fazer esporte. Konrad via nesta pessoa um exemplo a ser seguido – ajudar pessoas, ajudar famílias.

Konrad nunca gostou da escola. Sentia-se preso e não se interessava pelos temas apresentados. Simplesmente não era seu mundo. Ia à escola porque não havia outra alternativa. Na época de decisão, após a escola primária, Konrad com notas mínimas, conseguiu somente ser classificado para a “escola principal”. Mesmo na escola principal suas notas ainda eram muito medianas. Chegou a terminá-la. Queria mais e continuou fazendo um complemento na escola seguinte – “a escola prática”, onde também concluiu com notas somente necessárias. Ainda não havia mudado nada para Konrad. Escola era um mau necessário.

Perguntando-se qual profissão seguiria, Konrad tentou fazer o chamado “Abitur”, ou seja, provas que permitem o ingresso a universidade. Nestas provas ele não foi aprovado por 2 vezes.

Resolveu então, tentar um curso profissionalizante de “vendedor”. Durante seu curso, via-se extremamente aborrecido e sem ânimo.

Superdotação: descoberta na vida adulta

Sem saber ao certo o que acontecia com ele, qual a razão de tanta insatisfação, Konradbalance-15712_640 por acaso, começa a ter longas conversas com uma amiga, a qual ele via muito em comum. Um dia, sua amiga o revelou que era superdotada e que ele deveria também verificar seu grau de inteligência, pois na opinião dela, ele também era extremamente inteligente, conseguia acompanhar seu raciocínio, diferente da maioria de seus conhecidos.

Apesar do susto e depois de muita reflexão, resolveu tentar e fazer um teste em uma associação para superdotados. O resultado foi o esperado, um QI de mais de 130.

Konrad era superdotado, apesar das más notas, de não gostar da escola e nem dos temas lá discutidos.

Primeiramente sentiu-se muito mal, um perdedor.

Ah se ele soubesse disso antes!

Pensou que provavelmente poderia ter aprendido melhor a lidar com esta característica e talvez tivesse conseguido ser aprovado nas provas pré eliminatórias para a universidade. Talvez estivesse estudando em uma universidade.

Pelo menos ele agora tinha  a certeza que inteligência não lhe faltava. E que talvez com um pouco mais de disciplina e mais maturidade, conseguiria sim  captar os temas e escrever boas notas.

Com orgulho, contou a sua amiga o resultado do teste. Mas só a ela. Os outros não o entenderiam. Os outros pensariam que ele saberia dividir 7283 por 939 de cabeça e em uma fração de segundos…não era assim. O único que conseguia lembrar-se de especial da sua época de criança e adolescência era que gostava de ler livros de ficção científica e que destes conseguia  lembra-se de muito  detalhes com muita rapidez.

E agora o que faria de concreto com esta nova informação em sua vida?

Konrad adquiriu forças e motivação. Agora confiava mais em si mesmo. Só necessitava treinar a disciplina. Em pouco tempo conseguiu ser aprovado com sucesso nas provas eliminatórias para a universidade. Depois lembrou-se do seu sonho de infância: ser igual ao amigo que o acompanhou durante tantos anos – o assistente social.

Konrad decidiu-se por estudar ciências sociais. Hoje ele se diz muito satisfeito consigo mesmo e cheio de energias positivas para continuar seu caminho.

Baseado em um artigo do blog: Bento.de – “ein Queraufstieg”

Simone Clemens, Pedagoga montessoriana internacional e Especialista em Superdotação e Supersensibilidade-Alemanha.

6 respostas em “Superdotados com baixo rendimento escolar 2/descoberta na vida adulta”

Simone, eu talvez esteja com essa mesma situação. Na época de colégio, eu não gostava de estudar e por conta disso meus resultados escolares eram pífios, mesmo com reforço escolar. Isso me impediu de entrar em uma boa universidade aqui no Brasil. Só que nos dias de hoje eu passei a me interessar por leituras e determinados temas e tudo é muito fácil para mim, consigo compreender qualquer coisa. Há uma chance de eu ter sido um underachiever?

Olá Roni,
Bem, a expressão underachiever trata-se de um fenômeno relativo a superdotação. Para eu pelo menos partir do princípio de uma suposta S. precisaria de muitos mais informação sobre o caso. Aconselho você a procurar um especialista em S. para te esclarecer. Não se preocupe, normalmente se você não se enquadrar nem de longe em uma suposta S., o profissional sério nem irá pedir teste nenhum. Então não tenha receio, vá, consulte um especialista. Boa sorte.

Olá, Simone! Tenho um filho superdotado de 11 anos que acaba de concluir o 6 ano, numa escola com método tradicional, que aqpresenta sinais de desinteresse pelos assuntos, por boas notas, por tudo na escola. Você considera que o método Montessori poderia trazer algum beneficio para ele? Não conheço o método mas, como cojito trocar de escola para tentar reverter esse quadro, pensei que pudesse me ser uma boa opção.

Cara Andrea Rocha, me escreva aqui pelo “contato” e podemos marcar uma consultoria para seu caso. Até breve

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